BREVE ESTUDO DA HISTORIA DE ENVIRA

 
APRESENTAÇÃO.
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ste trabalho é uma iniciativa de mostrar um pouco da Historia do município de Envira, num breve estudo que aborda os seus aspectos mais gerais, desde sua criação, em 1955, até o inicio do século XXI. Pretendemos, com este estudo, fazer uma viagem ao passado e revisitar os principais fatos e acontecimentos que marcaram a trajetória política, econômica e sócio-cultural do município durante esses anos de sua existência. Nossa intensão, de registrar um pouco dessa historia, se pauta na importância que ela representa para o entendimento do curso de evolução alcançado pelo município ao longo de seu percurso histórico. Para entender o papel que uma região desempenha para criar novas formas de relações, valores culturais e organização do espaço é preciso buscar os elementos que tornam compreensível esses aspectos, imprescindíveis à compreensão e interpretação do meio que nos cerca na atualidade. Nosso objetivo não é enaltecer a figuras de heróis, apresentar nomes, datas ou simplesmente nos deter a historia das massas, mas envolver todos os seus aspectos em igual relevo.
Os depoimentos dos moradores mais antigos, que a tudo assistiram e participaram ou contribuíram de alguma forma são primordiais para reunirmos o maior numero possível de informações neste trabalho, além de serem, com freqüência, de flagrante atualidade. Os aspectos aqui abordados traduzem fatos profundos, demonstrados, hoje, na vida social, econômica, política e cultural do município de Envira. Apresentamos um passado no qual se tentou construir as bases de sustentação para nelas se erigir novas formas de convivência humana dentro de um panorama regional onde a natureza é quem determina o ritmo das mudanças e transformações no nível das interrelações e interdependência dos vários fatores que a compõe.
Outro objetivo nosso é fazer com que não se perca da nossa memória e, principalmente, daquelas que não conhecem suas origens e tradições, a historia dos antepassados, sua contribuição para a formação da sociedade atual, seja no âmbito político, no econômico ou no cultural. Estimamos aos que venham fazer uso deste trabalho que o façam de forma critica, responsável e reconheçam dentro desse processo histórico características sintomáticas coletivas e particulares nos aspectos de vida do município, frequentemente de flagrante atualidade.
É imprescindível oferecer um espaço dentro da historia para conhecer, identificar, analisar e principalmente se reconhecer no meio onde cada pessoa vive e o que realiza nesse meio. É a partir desse reconhecimento que se produz que se promovem as mudanças e que se evita cometer erros já efetuados no passado e que, ás vezes, quer apagar-se da nossa memória.
O caráter fundamental da formação do município de Envira está esboçado na trajetória nordestina na região e suas vicissitudes. Não nos referimos a uma particularidade, mas, a uma generalidade inegável e, é aí, que se traduzem os aspectos político, econômico e sociocultural determinantes na formação de uma sociedade.
Esperamos que este prefácio, da historia de Envira, suscite o interesse de outras pessoas em desenvolver novos estudos sobre o assunto em referencia, num aprofundamento maior dos aspectos aqui abordados, uma nova interpretação dos caracteres expressos no processo histórico do município. Todos os povos constroem sua historia a partir dos fundamentos estruturados na sua cultura ao longo do tempo e num determinado espaço, e esta precisa ser conhecida e registrada mesmo que seja de caráter narrativo, como esta que apresentamos, para dá às gerações posteriores a oportunidade de conhecer e refletir sobre sua historia, num passado que parece longínquo, mas, que ainda está presente e nos cerca por todos os lados e é a partir dele que podemos compreender o tempo presente.
O presente estudo esta dividido em capítulos. Cada parte (capítulos) conta um pouco da historia de Envira em momentos distintos, separando os terrenos de atuação: econômico, político e sociocultural, ás vezes juntos, devido aos seus caracteres fundamentais. Alguns capítulos estão subdivididos para facilitar o estudo, feito a base de informações dos narradores e de alguns documentos escritos. Há também várias ilustrações que são fotos de lugares que representam à evolução histórica do município no processo de ocupação dos espaços. Dessa forma teremos uma síntese da historia do município de Envira nos seus aspectos mais gerais, a partir de sua criação ao inicio do século XXI.        
         

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1 - LOCALIZAÇÃO, ORIGEM E FUNDAÇÃO.
Vista aérea de Envira

O



Município de Envira possui uma extensão territorial de aproximadamente (sete mil quinhentos e cinco e oitenta quilômetros quadrados 7.505,808 km²), segundo senso do IGBE de 2010, (atualizado). Em função das perdas territoriais sofridas para o estado do Acre, por conta da redefinição da Linha Cunha Gomes que definiu os limites de fronteira dessa parte do Amazonas com o Estado Acre, decididos em 2008, o município de Envira perdeu cerca de quarenta por cento de seu território (40%), ou seja, quase a metade de sua extensão territorial. Localizado na Planície Amazônica o município de Envira possui uma densa floresta ainda pouco devastada ou explorada, em termos econômicos. Suas terras são formadas por várzeas, que representa um pequeno percentual de sua área, e uma de terra firme, que é a maior extensão, com leve ondulação do terreno. Seus rios já apresentam um declive bastante acentuado, o que pode ser observado na correnteza de suas águas durante todo o ano.
Sua localização dificulta o acesso à região na época em que as águas baixam, deixando o leito dos rios bastante raso dificultando a navegação, principal meio de transporte do município já que na região não existe uma linha aérea regular nem uma malha viária ligada ao município que facilite o acesso, o transporte e a comunicação com outras regiões. A sede do município está situada à margem direita do Rio Tarauacá próxima à foz do Rio Envira, no lugar onde havia um pequeno seringal, denominado Pacatuba, que em função de ser um dos poucos lugares formado basicamente de terra firme na beira do rio era o lugar ideal para a construção de sede municipal, próximo do local denominado Aracati, citado no ato de criação do município.
Em relação ao estado do Amazonas o município de Envira está localizado na região (ou microrregião) do vale do Rio Juruá, a sudoeste do estado. Limita-se com os municípios de Eirunepé e Itamaraty, ao norte, Pauini, a leste, Feijó, ao sul e Tarauacá a sudoeste. Em relação ao Brasil, Envira está localizada na Região Norte na divisa com o Estado do Acre, numa região de difícil acesso em determinados épocas do ano devido ao regime dos rios e da falta de estradas de rodagem na região.
No século XIX, a região onde foi criado o município era formada por seringais, quase sempre explorados por portugueses que na época em que a borracha começou a ser um produto de alta aceitação no mercado internacional os europeus influenciados pelo sonho da riqueza do nobre produto promoveram a abertura dos seringais à custa do esforço, do suor e do sangue tanto dos povos nativos como dos caboclos e dos nordestinos que vieram para a Amazônia fugindo da seca do Nordeste, flagelados e que encontraram na região uma oportunidade de recomeço de suas vidas arruinadas pelos fenômenos naturais ocorridos em seus locais de origem. Chegando à região foram explorados e enganados pelos coronéis, latifundiários que se diziam donos da terra da qual eram a própria lei, uma espécie de absolutismo na selva.
Tem como base de sua economia o extrativismo, a agricultura extensiva e de subsistência, a pecuária e o comércio. O setor agrícola é o mais importante nas áreas rurais. Há períodos regulares e períodos de extrema carência. Os anos de crescimento se deram graças a uma nova concepção econômica que em certos períodos mobilizou a sociedade em função da necessidade de encontrar na região novas perspectivas de vida, já que o setor extrativista não oferecia boas condições de vida à população. A partir do início do século XXI, o setor terciário, serviço e comércio, é o que mais se desenvolveu, em função de um pequeno aumento do poder aquisitivo da população e, consequentemente do aumento do consumo em função dos novos produtos oferecidos pelas indústrias modernas além, é claro, da internacionalização da economia que inacreditavelmente chegaram até o município.
Sua população é formada basicamente por nordestinos e seus descendentes e, por uma pequena parcela de índios e mestiços assim como alguns de origem europeia e descendentes. Segundo o senso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, (atualizado), a população do município foi estimada em dezesseis mil trezentos e trinta e oito habitantes (16.338 hab). Vale ressaltar que a população do referido município já foi superior a 22.000; mas perdeu um contingente em torno de 7.000 com a perda de quase metade de seu território para o estado do Acre, como já dissemos anteriormente. A densidade demográfica do município de Envira foi estimada em aproximadamente 2,18 habitantes por quilometro quadrado (2,18 hab/km²), segundo o senso do IBGE de 2010, (atualizado).
Envira está situado na mesorregião nº. 2, microrregião nº. 4 e código municipal 0150, classificação do IBGE. Dista da capital do Estado – Manaus – cerca de 1.215 km em linha reta, por via fluvial a distância é de cerca de 2.496 km (Enciclopédia da Amazônia Brasileira).
O clima é do tipo Equatorial, quente e úmido com média anual de 23° C. Sua altitude é de aproximadamente de 58 m acima do nível do mar. Com relação às coordenadas geográficas o município de Envira situa-se a 7° 19’ de latitude sul em relação à linha do Equador e 70° 14’ de longitude a oeste do meridiano de Greenwich (Enciclopédia da Amazônia Brasileira).
Há apenas duas estações climáticas pouco definidas: inverno e verão, que se caracteriza como um período mais chuvoso, geralmente do mês de novembro ao mês de maio e um período em que há uma diminuição das chuvas que vai de junho a outubro. Aqui na região denomina-se inverno o período chuvoso quente e úmido, cheias dos rios, chuvas abundantes que podem ultrapassar 500 mm anuais e o período de estiagem em que periodicamente ocorre o fenômeno da friagem é chamado de verão. É nesse período que os agricultores preparam a terra para o plantio tanto nas áreas de várzea quanto nas áreas de terra firme. Na várzea em função das cheias e na terra firme devido às chuvas que dificultam a limpeza do terreno, pois nessa região ainda se usa a queimada como técnica de limpeza do terreno para o plantio. Tanto o inverno como o verão são períodos com temperaturas elevadas o que diferencia um do outro é a diminuição das chuvas e o surgimento da estiagem. Toda a área do município é coberta por densa floresta ainda bastante preservada. Os rios são perenes e navegáveis o ano inteiro. A região de planície facilita a navegação através dos rios que se constituem no principal meio de transporte da região.

Em 1920, nas apurações do senso, consigna-se como um dos distritos do município de Eirunepé, o de Foz do Envira. Em 19/12/1955, pela Lei estadual nº. 96, esse distrito, acrescido de territórios desmembrados do município de Carauri, é transformado no município autônomo de Envira. Em 1º. de março de 1956, instala-se o município, mas sua sede municipal, antes prevista para a localidade conhecida como Aracati do Norte (Enciclopédia da Amazônia Brasileira), só é inaugurada em 31/01/1962, com a fundação oficial da cidade de Envira (Enciclopédia da Amazônia Brasileira).

Assim, a região atualmente conhecida como Envira surgiu como município a partir da segunda metade do século XX.

Pesquisa realizada sobre a História de criação do Município de Envira, com os moradores mais antigos as principais fontes detentoras das informações obtidas neste estudo, nos levam a crê que os fatores que dinamizaram ou que levaram a criação do município foram, principalmente, as grandes distâncias geográficas que dificultavam a administração da região, a necessidade de ocupação ou integração desta parte do estado em termos humanos, econômicos e políticos considerando, também, que na região já havia muitos habitantes, principalmente os provenientes do Nordeste a partir da migração causada pela exploração do látex que recrutou centenas de trabalhadores nordestinos para a Amazônia no final do século XIX, inicio do século XX e durante a Segunda Guerra Mundial (informações não oficiais obtidas junto aos moradores mais antigos do município).
Segundo as informações obtidas com os trabalhos de pesquisa a região vivia a mercê dos “coronéis de barranco” (termo usado para denominar os seringalistas que detenham a posse da terra, o controle político a administrativo da região, fenômeno muito parecido com os praticados pelos coronéis no Nordeste e o de outras regiões do Brasil).
Esses seringalistas tinham o controle absoluto dos locais onde viviam. Eram a própria lei alem de terem o controle político local e grande influencia na política regional e estadual. E essa influencia depois transferida para o âmbito municipal, se estende até os dias de hoje (informações obtidas junto aos moradores mais antigos do município e expressos na política local). O primeiro governo municipal e os que o sucederam estiveram montados numa estrutura oligárquica a serviço de grupos que se beneficiaram da máquina administrativa local.
Até o final da primeira metade do século XX a região que compreende o município de Envira pertencia ao município de Eirunepé e ao município de Carauari. Envira foi desmembrada dos municípios de Eirunepé e Carauari por meio de um ato do então governador do Estado do Amazonas, Plínio Ramos Coelho, em 19 de dezembro de 1955 (Trabalho de pesquisa realizada pelos alunos do Curso Magistério sobre a História de Envira, em 1993).
Com a criação do município veio a primeira gestão do governo municipal na pessoa do senhor René Fernandes Levy, proprietário do Seringal Vila Martins, próximo à foz do Rio Tarauacá, principal rio do município recém criado. Vale ressaltar que o primeiro prefeito do município foi nomeado pelo governo do estado conforme o referido acima. O primeiro prefeito tinha a incumbência de promover a organização dos órgãos municipais, estaduais e federais presentes no município, como as Secretarias Municipais, a Delegacia de Policia, a Agencia dos Correios, Posto de Saúde, Escolas e outros (Trabalho de Pesquisa realizado pelos alunos do Curso Magistério sobre a História de Envira em 1993).
Até 1960, o município não tinha uma sede. O forte domínio que os coronéis de barranco exerciam na região dificultou a criação de uma sede para o município. Ninguém queria ceder parte de suas terás (o seringal) para a construção da cidade e assim fossem construídos a prefeitura e os demais prédios da administração municipal para que tivesse inicio o processo da gestão municipal.
A Agencia dos Correios foi instalada provisoriamente no Seringal Foz do Envira e a Delegacia de Policia no seringal Cachoeirinha. A distancia ente esses locais era bastante grande na época, pois não havia meios de comunicação que contactasse esses locais em tempo hábil. O único meio de comunicação e transporte que dispunha a região era o rio e o transporte era, quase sempre, feito a remo em canoas, levavam-se vários dias para ir de um lugar a outro. A região ainda era muito primitiva, o homem não dispunha de uma tecnologia que proporcionasse transformar o ritmo imposto pela natureza, tudo estava condicionado a ela. O prefeito (o primeiro, nomeado) se instalou no Seringal Vila Martins, de sua propriedade, próxima a foz do Rio Tarauacá. As distâncias entre esses locais eram enormes, levava-se vários dias viajando entre um local e outro, conforme exposto acima, onde o único meio de transporte disponível era a navegação em pequenos barcos quase sempre movidos a volga (uma espécie de remo bem grande fixados nas bordas da canoa e movimentados com impulso para locomover a embarcação), ou raramente movidos através de um motor, mas isso era um fenômeno que só ocorria esporadicamente e era privilégio de poucos. Por conta dessas circunstâncias era necessário construir uma sede para o município no sentido de promover a otimização da administração municipal. Para tanto foi construído, primeiramente no Seringal Foz do Envira na desembocadura do Rio Envira principal afluente do Rio Tarauacá, a Prefeitura Municipal do Município, dando dessa forma, inicio a construção de uma sede para o município. Tal iniciativa, realizada na gestão do primeiro prefeito (o que foi nomeado) gerou uma crise que levou o inicio de grande conflito entre o proprietário do seringal, o seringalista Manoel Dias Martins também conhecido como “Maneca” e o então prefeito, também seringalista, René Levy, pois se tornaram rivais justamente por ocasião da criação do município. Prevaleceram os interesses do seringalista Manoel Dias Martins que não permitiu em hipótese alguma a construção da sede do município em suas terras. Em função desse conflito a construção da sede do município teve que ser interrompida naquele local ( Trabalho de pesquisa realizada pelos alunos do Curso Magistério, em 1993).
Há alguns quilômetros, do já citado seringal Foz do Envira, descendo o Rio Tarauacá, havia um pequeno seringal denominado Pacatuba, de propriedade do então Vereador, Senhor Joaquim Borba que, depois da negociação com o prefeito e este com o governador do estado, cedeu suas terras para a construção da sede do município mediante o pagamento de uma quantia em espécie pelo estado do Amazonas conforme acordo firmado entre as partes. No dia 08 de julho de 1960, o vereador Joaquim Borba vendeu, para o estado do Amazonas, o seringal Pacatuba o que importou ao estado o pagamento de uma quantia em dinheiro de duzentos mil cruzeiros (CR$ 200.000,00) (Pesquisa realizada pelos alunos do Curso Magistério, em 1993). Então dessa forma foi possível iniciar a construção se uma sede para o município sem que houvesse divergências quanto ao local de sua instalação.
Já na segunda gestão municipal constitucional, um prefeito eleito através do voto, foi iniciado os trabalhos de construção da cidade do município de Envira. No dia 12 de outubro do ano de 1960, chegaram ao seringal Pacatuba os primeiros trabalhadores para iniciarem as obras de construção da sede do município, tendo como fundador o primeiro prefeito constitucional, o Senhor Francisco das Chagas Valle. A inauguração da Prefeitura Municipal de Envira ocorreu em 31 de janeiro do ano de 1962, (Trabalho de pesquisa realizada pelos alunos do Curso Magistério, em 1993).
O nome Envira, dado ao município, deu-se devido ao fato de que o local ou a região onde foi criado o município e instalada a sua sede (a primeira tentativa) já era conhecido como distrito de Foz do Envira, sede de um seringal com o mesmo nome e onde tentaram construir ou assentar pela primeira vez a sede do município, o que não ocorreu devido à crise que foi gerada entre o Prefeito René Levy e o seringalista Manoel Dias Martins o “Maneca” e, ainda, em virtude do Ato de criação do município que já o denominava de Envira. Daí a origem do nome do município.
A cidade de Envira ficou também conhecida como “Pacatuba”. Tal epíteto ocorreu devido ao fato de que a sede do município ter sedo erigida exatamente no local do antigo seringal Pacatuba ao qual nos referimos anteriormente. Essa denominação passou a ser usada como deboche pelos opositores a sua construção no seringal Foz do Envira.
Os fatos aqui expressos foram baseados nas informações cedidas pelo Senhor José Geraldo Bernardo, do seu arquivo pessoal e com sua devida autorização. As informações, gravadas em fita k7, relatam em linhas gerais, grande parte da história política do município de Envira, que vai desde sua criação, em 1955, até próximo ao final do século XX. Os fatos abordam vários aspectos sobre o processo histórico do município de Envira em termos políticos em termos gerais, no período de 1955 até por volta dos anos de 1990 e que abrange grande parte deste capitulo. O referido senhor narra parte do processo histórico do município de que teve conhecimento, pelo fato de ter tido uma participação efetiva na história do município, principalmente, nas três primeiras décadas durante e após sua criação. A pesar do caráter elitista da narrativa ela reúne os principais elementos que nos permitem construir conhecimentos sobre a historia em referencia e nos possibilita uma interpretação crítica da História do município de Envira.
Segundo José Geraldo Bernardo: “O município de Envira foi criado com advento da Lei nº.96 de 19 de dezembro de 1955, que criou novos municípios no Amazonas, na administração do governador Plínio Ramos Coelho. A Lei já citada, no seu Artigo 15 diz: Fica criado o município de Envira, desmembrado do município de Eirunepé e parte do município de Carauari, constituído dos distritos denominados Foz do Envira, Foz do Tarauacá, Foz do Itucumã, Foz do Cujubim com sede na atual localidade Aracati que pelo presente foi elevado a categoria de cidade com a denominação de “Aracati do Norte”...
Conforme o Artigo 17 da Lei nº.96, os prefeitos dos municípios criados, por esta lei, serão nomeados em sua primeira investidura pelo governo do estado, os quais instalarão o governo municipal, providenciarão os prédios públicos e outros. [Vale ressaltar que a referida Lei não definia o local para assentamento da sede do município, apenas fazia referencia a um dos locais conhecidos na região, verifica-se que ao primeiro prefeito era conferida a tarefa de promover os preparativos para as futuras administrações com o intuito de estabelecer as bases para o inicio da criação do centro urbano no meio da selva desafiando os “coronéis de Barranco”, donos da região e que sem o apoio desses “colonizadores” era difícil obter sucesso em qualquer empreendimento desenvolvido por essas bandas da Amazônia, área dominada pelos exploradores da borracha produto que na época movia o comércio da região Amazônica e dava ostentação aos senhores da borracha. Mas, sendo uma Lei era possível que tivessem a consideração de acatá-la, pois eles também podiam se beneficiar com a criação do município, afinal de contas naquela época a borracha já não era tão importante para a economia da região uma vez que o seu comércio estava em fase de extinção, já não representava a grande opulência dos “Coronéis”].
Com a criação do município de Envira o município de Eirunepé sofreu grandes perdas tanto no âmbito político quanto mo âmbito financeiro. No âmbito político o eleitorado e no âmbito econômico parte do ICM dos seringais que ficaram para o novo município.

Como tudo já estava acertado entre René Fernandes Levy e o governador do estado do Amazonas, Plínio Ramos Coelho, René Levy foi nomeado prefeito do município de Envira no dia 20 de dezembro de 1955. Nos primórdios de janeiro de 1956, René Levy, abordo de seu barco Itucumã chegou ao local onde imaginou assentar a cidade, um pouco acima da confluência do Rio Envira. Só que de 20 de dezembro de 1955 a 30 de janeiro de 1960, entre o prefeito René Levy e o senhor Manoel Dias Martins, proprietário do seringal escolhido pelo prefeito para o assentamento da cidade muito coisas aconteceram, ou seja, divergências justamente em relação à criação do novo município assim como a construção da cidade.

Manoel Dias Martins, com as ameaças do prefeito sobre a desapropriação do local para a construção da cidade, não tinha medo da desapropriação, pois sabia que a desapropriação era objeto de lei, sabia, igualmente, que não era da competência privada do prefeito nomeado decretar, promulgar e sancionar lei, portanto foi ao Cartório e doou ao município alguns metros de terra no local escolhido e só. Na área doada ao município o prefeito construiu um almoxarifado para armazenar o material de construção e abrigar os trabalhadores quando fosse o caso e deu o nome de casa Branca, por ter sido pintada de cal”.

No local onde foi construída a “Casa Branca” era conhecido como Terra Firme. Era uma área de um aspecto bastante agradável, formado por terras altas às margens do Rio Envira, próximo a sua foz ou confluência com o Rio Tarauacá. Ali viviam alguns seringueiros, que alem de produzirem borracha, também praticavam a agricultura. Era próximo à sede do seringal Foz do Envira, menos de um quilômetro. Um dos locais com terra firme na beira do rio, daí o interesse do prefeito nomeado pela construção da sede municipal e também porque o lugar era estratégico, pois ficava bem no centro do município, o problema é que, pela distancia que era da sede do seringal incomodava as pretensões do dono do daquela unidade produtora de borracha, se bem que naquela época já não havia mais uma produção significativa de borracha, pois o comércio estava quase extinto, mesmo assim os seringalistas ainda persistiam na produção da goma elástica. Mas, o fato é que o seringalista, “dono das terras”, fez valer sua autoridade, e impediu que ali fosse construída a sede do município que fora criado. Isso nos dá uma idéia da força que os seringalistas tinham na região, assim como a autoridade que representavam, mesmo depois da decadência do produto que deu tanto poder aos que possuíam seringais. Verifica-se, ainda, que os chefes políticos da região tinham que refletir diante da vontade dos donos dos seringais, pois o poder econômico os fez extremamente fortes diante dos políticos. Havia, no entanto, respeito, por parte dos políticos locais para com os “Coronéis de Barranco”, pois eles comandavam o eleitorado que vivia em suas terras, ainda era o voto de cabresto e o clientelismo uma prática muito comum na região, então os seringalistas tinham uma força política bastante expressiva na região tanto do ponto de vista econômico como no ponto de vista político.
“O prefeito Levy foi muito ambicioso em ter escolhido o local para assentar a sede do município a pelo menos 1.500 metros da sede do seringal Foz do Envira e, ainda, na época em que a borracha estava dando muito lucro aos seringalistas. O senhor “Maneca”, como era assim conhecido pelos seus seringueiros, fez de tudo para afastar o prefeito de seu caminho chegando até a ser levado, por amigos, a uma seção espírita em Belém do Pará, onde residia, mas pelo que se soube na época nada adiantou, apesar das promessas do macumbeiro, que teria prometido de tirar o prefeito de seu caminho o que não aconteceu.
Certo dia, Maneca disse ao preito René Levy : por que você não vai construir a cidade no seu seringal? Infelizmente, Maneca, respondeu René, não tenho terra firme na beira do rio, só tenho várzea.
Persistiu Maneca: e por que você não vai para a Torre da Lua? Lá é terra firme, pertence a uma viúva e ela vende, vai para lá e me deixa em paz! Ora, René sabia que Maneca tinha uma “caneta forte” e um linguajar anda, mas forte, mas sabia também que Maneca não ia tirar-lhe uma forra e, por fim, com a expressão: “vai para a Torre da Lua” o prefeito brincou dizendo: ora, Maneca, para se chagar a Torre da Lua é preciso construir uma nave espacial e até lá morre o burro e quem o tange. E assim, o tempo ia passando sem que o prefeito Levy pudesse erguer a cidade no local onde pretendia.
Ora, René sabia que o local para assentamento da cidade, que fora escolhido por ele, tratava-se de propriedade privada e como já tinha esgotado todos os esforços para convencer o senhor Manoel Dias Martins a construir a cidade, não chegou a um acordo para realizar seu plano de governo, iniciando a construção da prefeitura e demais prédios públicos e diante das circunstancias que se oferecia em favor de Maneca, o prefeito Levy, parou para pensar e admitiu o seu fracasso. Mas, ergueu a cabeça e disse: eu vou a capital expor a situação ao governador e pedir que ele faça a proposta de compra do seringal Foz do Envira. Assim foi feito e o governador aceitou o pedido do prefeito ao mesmo tempo em que lhe deu carta branca para fazer a proposta de compra do referido seringal ao seu proprietário.
Dessa forma o prefeito convidou o senhor Maneca para um encontro com o governador na esperança de acertar os primeiros passos do negócio. Assim foi feito, o prefeito levou a proposta de compra do seringal até o senhor Maneca que concordou em vender o seringal para o estado. Então o prefeito criou novo ânimo pelo fato de que ambas as partes terem demonstrado interesse em realizar o negócio e aproveitou a oportunidade para convidar o senhor “Maneca” para um encontro no Palácio Rio Negro com o governo do estado em data a ser marcada pelo mesmo, o que “Maneca” aceitou. Mas, o governador precisava, para realizar o negócio, da aprovação da Assembléia Legislativa e como não havia tempo para tanto, o governador explicou ao seringalista que logo que o seu projeto fosse aprovado pela colenda casa legislativa do Amazonas, assim como foi redigido e encaminhado para a devida sansão, o governador do estado transformaria em lei do estado do amazonas e logo tomaria assento na mesa de negociação.
Floresta
Mas, por orientação do prefeito Levy, o governador temendo que o Maneca voltasse atrás antecipadamente chamou o prefeito e o senhor “Maneca” para negociar e acabar de uma vez com o pesadelo do prefeito que não o deixava dormir. Assim, sentaram ambas as partes para fechar o negócio. O prefeito, mediador do negócio, perguntou ao senhor Maneca quanto ele queria pelo seringal. Maneca, que vinha procurando pretexto para não vender o seringal, disse ao governador: Vossa Excelência pergunta quanto eu quero pelo seringal Foz do Envira e não pelos seringais da Foz do Envira. Assim, Maneca deixou claro que não queria vender o seringal e sim a sede do “Barracão”, com poucas estradas de seringa em volta. Houve arranhões entre René Levy e Manoel Dias Martins, mas nada grave. Então o governador lavou as mãos, literalmente. Dessa forma, não realizaram o negócio e ainda ficaram se odiando, o prefeito e o seringalista.

O PRIMEIRO PREFEITO
René Fernandes Levy, nomeado primeiro prefeito do município de Envira. Um dos herdeiros da firma Irmãos Levy, era filho do senhor Henry S.Levy, judeu francês que migrou para a região em fins do século XIX e tornou-se um dos maiores seringalistas do Rio Tarauacá, casou-se com uma cearense de cuja consorte nasceu-lhe doze filhos. René Levy lutou para fundar a cidade na Terra Firme (local próximo à sede do seringal Foz do Envira), mas não conseguiu. Pôde realizar apenas o seguinte: delimitou o perímetro urbano para o assentamento da cidade, construiu uma casa que foi denominada “Casa Branca” e construiu algumas escolas no seringal”. De acordo com José Geraldo Bernardo, em abordagem ao contexto relacionado a vida nos seringais e num breve relato sobre os seringalistas e os seringueiros, comenta o seguinte: “ Na época, como os prefeitos não davam assistência aos ribeirinhos, dos Rios Tarauacá e Envira, era os seringalistas que apesar de tratarem os seringueiros com muita inferioridade estavam sempre ao lado deles, se fossem bons seringueiros. O seringueiro, gemendo ou chorando, são ou doente, durante o fabrico da borracha tinha que de quinze em quinze dias fazer a entrega da borracha, que era aos domingos e se não o fizesse o patrão mandava seu empregado de confiança ir à barraca do seringueiro faltoso saber o porquê de não ter ido fazer a quinzena, se estava doente ou se não quis cortar ou ainda se cortou e vendeu a borracha ao regatão. Nesse último caso o seringueiro era expulso do seringal sem direito a nada.
Regatão era o comerciante ambulante que durante o fabrico da borracha trafegava rio acima rio abaixo vendendo mercadoria e comprando borracha. O seringueiro que devia ao patrão – geralmente 95% deviam – se entregasse quarenta quilos de borracha numa quinzena só comprava o equivalente a vinte quilos o restante era para a conta, dizia o patrão. De forma que os seringueiros nunca gostavam de seu patrão. Alguns deles (patrão) todo mês dava aos seringueiros um talão contendo as compras que eram feitas durante o mês. No final do ano davam uma demonstração dos extratos de conta corrente. O fato é que a receita nunca cobria a despesa. Havia outros patrões que não davam nada.
A borracha feita durante o verão, na época da cheia os navios vinham carregados de mercadorias para um determinado seringal e voltavam com toda a produção de borracha daquele ano. Quando os seringueiros perguntavam pela borracha o patrão respondia: a nossa borracha está nos armazéns esperando novos preços. Eis ai o motivo pelo qual a grande maioria dos seringueiros não gostavam de seus patrões. Diziam até que os seringueiros que tiravam saldo, que geralmente eram nordestinos, quando eles chegavam ao patrão e pediam - lhe a conta, dizendo que queriam ir embora, esses desapareciam e a linguagem para justificar o desaparecimento era o seguinte: ”a onça comeu”. Por outro lado, quando o seringueiro fugia devendo ao patrão este mandava atrás e o mourão ficava esperando o pobre coitado, era o amansa brabo, diziam os capangas. Por muitos, muitos e muitos anos a borracha foi a principal fonte econômica da região seguida da pesca, da pele, da caça e da coleta de outros gêneros da floresta.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e com o reaparecimento da borracha da Ásia no mercado brasileiro o comercio da borracha da Amazônia perdeu o seu valor. Tanto é que nos anos 70 e 80 quase todos os seringais da região estavam fechados. Os seringalistas não podendo mais manter os seringais funcionando foram embora.
Quanto aos nordestinos e os amazônidas ficaram jogados ao léu, nas mãos de Deus, mas conseguiram sobreviver. Mesmo com a criação do município de Envira, em 1955, ainda levou anos para que a região entrasse em um tímido período de desenvolvimento, pois era habitada por gente pobre, sobretudo pobres que trabalhavam de sol a sol para sustentar as famílias dos barões da borracha, com exceção de poucos que procediam com seus seringueiros como os barões do café com seus escravos. Vale dizer que o seringalista além de ser chefe de sua jurisdição ainda tinha patente comprada, sempre era major ou coronel. Com isso eram revestidos de autoridade para fazer o que bem quisesse com seus seringueiros.
O município de Envira desde sua criação, em 19 de dezembro de 1955, até o final dos anos 90 (final do século XX) foi administrado pelos seguintes prefeitos: René Fernandes Levy, nomeado pelo governador do estado, no período de 20 de dezembro de 1955 a 31 de janeiro de 1960. Delimitou o perímetro urbano do município e construiu algumas escolas na zona rural. Francisco das Chagas Valle, Francisco Simões Marques, Lupercínio Mariano de França, Luiz Castro Andrade Neto e Ednelson coelho Bastos.
SEGUNDO PREFEITO
Segundo prefeito, Francisco das Chagas Valle, primeiro prefeito eleito juntamente com a Câmara de vereadores nas eleições realizadas no dia 31/12/1960 e como não tinha Câmara velha para dar posse a nova e esta dar posse ao prefeito foram todos para a residência do prefeito René Levy, no seringal Vila Martins. A posse foi dada pelo meritíssimo juiz da 46ª. Zona eleitoral, Alcides Barbosa.
Os vereadores empossados foram os seguintes: Joaquim Brígio de Souza Borba, Manoel Calisto de Menezes Filho, João Marques da Costa Wanderley, Nelson Coelho Bastos, Francisco das Chagas Mattos e José Geraldo Bernardo. O prefeito Chagas Valle governou de 31/01/1960 a 31/01/1964. Fez entre outras as seguintes realizações: aquisição do terreno para a instalação da sede municipal (compra do seringal Pacatuba), um parque municipal, um mercado municipal, começou a instalação da rede elétrica, construção da Delegacia de Polícia e grande desmatamento no perímetro onde ia ser erguida a cidade. Enfrentou muitos obstáculos, principalmente por ter recebido de seu antecessor as chaves de um município sem sede. O prefeito Chagas Valle era funcionário público dos Correios e tinha domicílio na cidade de Eirunepé para onde retornou depois da posse. A Câmara de Vereadores ficou instalada no seringal Vila Martins, tentando resolver onde ia instalar a sede do município e com muito esforço conseguiram resolver o impasse. O prefeito elaborou um projeto de desapropriação e encaminhou à Câmara municipal recomendando sua aprovação em caráter urgente urgentíssimo.
Os vereadores examinando o projeto constataram que o prefeito queria, a qualquer custo, adquirir um local para assentar à sede do município visto que o aludido prefeito recomendou primeiramente o seringal Cachoeirinha de sua propriedade e, segundo o seringal Pacatuba de propriedade do vereador Joaquim Borba. Em se tratando do seringal Pacatuba o vereador Joaquim Borba não podia tomar parte nas discussões e votação do referido projeto, visto que ele era o principal interessado, sendo que a lei orgânica do município proibia tal ação. Mas, verbalmente recomendou aos seus parias pela votação da área em questão (o seringal Pacatuba) que ficava no âmago do município, ao contrário do seringal Cachoeirinha que foi rejeitado na reunião de 08/06/1960. Após sua aprovação o projeto foi sancionado virando lei do município sob o nº. 10. Na área desapropriada já havia duas casas: uma de Francisco Pereira Lima e outra de Antonio Lima de Souza.
O prefeito só chegou ao local escolhido para a instalação da sede do município nos primeiros dias do mês de dezembro de 1960, onde os vereadores Francisco das Chagas Mattos e José Geraldo Bernardo, primeiros a chagarem ao local, já haviam construído uma casa coberta de palha, assoalhado de pachiuba e emparedada de bambu que serviu para o prefeito morar até que fosse feita a Prefeitura e sua residência.
O prefeito Chagas Valle, depois de sua posse, passou onze (11) meses para chagar ao local onde iria erguer a cidade, isso ocorreu devido à falta de recursos. Quando chagou, iniciou os trabalhos a todo vapor. Trouxe um barco carregado de material de construção e muitos trabalhadores, inclusive dois carpinteiros que, em ritmo acelerado, no dia 31de janeiro de 1962, foi grande a festa de inauguração da Prefeitura Municipal de Envira e da residência do prefeito.
Com o inicio dos trabalhos, os primeiros a chagarem para morar e trabalhar foram: Luiz Alves Feitosa, Otávio Rufino Fernandes, Francisco Nogueira, Manoel Nogueira, João Gonçalo, João Gondivo e Cristóvão Mariano de França que foram os primeiros moradores da cidade já como sede do município.
Mapa do Amazonas e do Município de Envira

TERCEIRO PREFEITO
Terceiro prefeito, René Fernandes Levy, eleito, governou o município de Envira, já pela segunda vez, de 31 de janeiro e 1964 a 31 de janeiro de 1969. Não menos desafortunado que seu primeiro mandato, como prefeito nomeado, pois no inicio de seu segundo mandato instalou-se no Brasil o Regime Militar. O referido prefeito fez as seguintes realizações: construiu uma ponte ligando o Primeiro Distrito ao Segundo Distrito, construiu um prédio que ficou conhecido como “Casa Branca”, abriu e pavimentou ruas, construiu a Praça 19 de Dezembro, iniciou o desmatamento para a construção de uma pista para pousos e decolagens de táx aéreo.

René Levy também atuava como médico chagou até a abandonar a prefeitura para assumir o ofício, em um hospital que ele mesmo construiu de madeira. Construiu também uma olaria, escolas na zona rural, deu assistência medicamentosa aos mais necessitados, incentivou a agricultura, abriu uma cantina com bastante mercadoria para atender aos funcionários da prefeitura, pois a atividade comercial na cidade era quase insignificante.
QUARTO PREFEITO
Quarto prefeito, Francisco das Chagas Valle (segundo mandato), de 31 de janeiro e 1969 a 31 de janeiro de 1973. Suas realizações mais importantes nesse mandato foram: construção da Escola Estadual Presidente Castelo Branco em convênio com o governo do estado, expandiu a rede elétrica, construiu uma serraria municipal, construiu um prédio e implantou no município o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), construiu um barco para os serviços de transporte da prefeitura denominado “Rei Pelé”, construiu 800 metros de pista de terra batida na pista já existente para táx aéreo, cercou com arame o cemitério, investiu na saúde e na educação, construiu escolas e obteve junto a SEDUC professores para trabalhar no município (vindos de Manaus), construiu e pavimentou ruas.
QUINTO PREFEITO
Construiu um mercado municipal para comercialização de carne e pescado assim como produtos industrializados em pequenos boxes. Construiu um almoxarifado, uma biblioteca municipal (prédio), algumas escolas nos seringais e comunidades, pavimentou ruas, construiu rede de água encanada através da COSAMA (Companhia de Saneamento do Amazonas), iniciou a construção do novo prédio da Prefeitura. Seu governo foi, portanto, de poucas realizações no âmbito econômico, mas foi o possível que deu para realizar levando em conta o contexto da época e o estado de isolamento em que vivia a região com relação ao pólo político e econômico estadual e na cional.
O quinto prefeito foi Francisco Simões Marques. Seu mandato se deu no período de 31 de janeiro de 1973 a 31 de janeiro de 1977. Era funcionário do seringalista Manoel Dias Martins, Dono do seringal Foz do Envira. Era candidato único à sucessão de Francisco das Chagas Valle. Suas principais realizações foram: um hospital ou Posto de Saúde para atendimento dos casos mais urgentes, porem com poucos recursos, tanto material quanto humano, construído em convenio com o governo do Estado, a Escola Benedita Barbosa de Souza, também em convenio com o governo do estado, na Colônia Campos, atual Bairro Santa Rita.
SEXTO PREFEITO
O sexto prefeito foi o senhor Lupercínio Mariano de França, esteve à frente da prefeitura no período correspondente a 31 de janeiro de 1977 a 31 de janeiro de 1983. Suas principais realizações foram: conclusão do prédio da prefeitura para instalação do Poder Executivo e outros órgãos da administração, construiu um prédio para realizações cultuais conhecida como Casa de Cultura, um Posto de Saúde no Bairro Santa Rita. Promoveu a construção do prédio rodoviário, construção de uma ponte ligando a Rua 31 de Março ao segundo Distrito com a Rua René Levy, construiu escolas na zona rural, construiu o prédio da Câmara Municipal (já substituído), um complexo chamado Centro Social, uma Delegacia de Policia, uma Quadra Polivalente denominada João Conrado, fez investimentos na área da Saúde e da Educação.
Abriu frentes de trabalhos em limpezas de ruas e serviços públicos no perímetro urbano. Seu governo se deu ainda no período militar onde o poder estava centralizado nas capitais e no pólo dominante do país e os programas de desenvolvimento eram rigorosamente controlados pelo poder central nas decisões e aplicação. Era a chamada “linha dura”. É certo que foi já no período de abertura do regime, mas sua estrutura ainda estava em funcionamento o que talvez tenha dificultado o processo de desenvolvimento do município, em função do sistema oligárquico o do caráter repressivo do regime. O referido governo trouxe investimentos em diversos setores de desenvolvimento, como obras públicas, ampliação do sistema viário, empregos, saúde e educação.
SETIMO PRTEFEITO
Sétimo prefeito, Luiz Castro Andrade Neto (primeiro mandato) Governou de 31 de janeiro de 1983 a 31 de janeiro de 1989. As principais realizações do seu primeiro mandato foram: construiu a Unidade Mista de Envira (Hospital), promoveu o assentamento de trabalhadores no sistema de Agrovilas, construiu a Escola São Francisco, Escola Infantil Jardim Cinderela, fábrica de gelo, concluiu o prédio da Exatoria, construiu a Escala Armando Mendes em convênio com o governo do Estado. Fez investimentos nas áreas de Saúde e Educação, sua gestão foi marcada pelo incentivo à agricultura, principalmente na zona rural.

Vale ressaltar que esse mandato marca um período de transição para uma nova etapa da Historia do município, onde um novo grupo político toma os rumos da política municipal, foi um período meio conturbado em que foram quebrados alguns pilares da velha estrutura e feito uma nova montagem estrutural, no âmbito político e econômico para dá sustentação à nova forma de governar. Porém, não podemos considerar uma ruptura total dos processos políticos, pois ainda ficou muito em comum dos dois processos políticos, por conta da admissão de caracteres dos políticos anteriores, pois se tornou impossível dissocia-los totalmente da nova ou da modificação da máquina administrativa que foi formada para dinamizar substancialmente o governo municipal.
OITAVO PREFEITO
Ednelson Coelho Bastos, foi o oitavo prefeito e governou no período de 31 de janeiro de 1989 a 01 de janeiro de 1993. Durante o seu mandato ocorreram diversas realizações, entre as quais destacamos as seguintes: construção de uma passarela ao lado da ponte Chagas Valle para passagem de pedestres do primeiro para o segundo distrito, construção de uma quadra polivalente próximo a Praça 19 de dezembro, realização da Feira do Produtor, reforma da Escola Estadual Benedita Barbosa de Souza em convenio com o governo do estado, reforma da Escola Infantil Jardim Cinderela, perfuração de Poços Artesianos, pavimentação de ruas, construção de um Posto de Saúde na localidade Jurupari, abertura de Estradas Vicinais e recuperação parcial do sistema viário entre outros. Seu governo foi “marcado pelo apoio à área de Saúde”.
NONO PREFEITO
O nono mandato foi exercido pelo senhor Luiz Castro Andrade Neto, segundo mandato. Nesse mandato suas principais realizações foram principalmente as seguintes: construção da Escola Estadual Professor Chagas Matos em convenio com o governo do estado, construção de um ginásio poli esportivo e uma Quadra de Esportes em frente à Prefeitura Municipal. Construção de um novo aeroporto. Promoveu junto com o governo do estado a distribuição de implementos agrícolas na cidade e na zona rural, criação da FUNDEPROR (Fundação de Desenvolvimento Sustentado da Produção e Exploração dos Recursos Naturais do Município de Envira) através da Lei Municipal nº. 053/95, de 14/06/1995, no seu Artigo Primeiro incentivou a produção agrícola no município. Fez diversas outras realizações em menor grau, e de grande relevância, porém não estão relatadas neste trabalho. Fez ainda em seu governo investimentos na área social, na Educação, na Saúde e na produção. Seu mandato transcorreu no período de 01 de janeiro de 1993 a 01 de janeiro de 1997.
Quando o município de Envira foi criado, em 1955, possuía uma extensão territorial bem maior que a atual, isso porque ainda não haviam sido definido os limites territoriais com o Estado do Acre, o que só veio ocorrer anos depois. No Baixo Tarauacá seu limite era fixado no lago Tarauacá Velho, no seringal foz do Tarauacá. Atualmente seu limite no mesmo rio é fixado na Comunidade Monte Flor (as antigas Unidades produtoras de borracha hoje são conhecidas como comunidades), perdendo, portanto, os seringais ou comunidades de Baturité, Vila Martins e outras que ficaram para o município de Eirunepé.
A definição de limites do Amazonas com o estado do Acre fez com o município de Envira perdesse mais de 40% de sua área territorial. No alto Tarauacá seu limite foi fixado na Foz do rio Acurauá. No rio Envira na foz do rio Jurupari. As principais comunidades rurais do município de Envira são as seguintes, conforme informações dos moradores mais antigos: no Baixo Tarauacá, Monte Flor, Araras, Diamantina, Sobral Sede, Sobral Colônia, Aracu, Varadouros, Três Bocas, Triunfo, Bom Futuro, Manaquirir, Granja e Marajá e algumas outras pequenas comunidades. No médio Tarauacá são as seguintes comunidades: Estirão do Rato, Aracati, Foz do Envira, Boca do Rio, Lago do “Pedo”, Areia, Diana, Aty, Varginha, Extrema, Cachoeirinha, Macau, Santa Bárbara, Santa Catarina, Acurauá e outras pequenas localidades. No Baixo Rio Envira há também muitas comunidades como as apresentadas a seguir: Terra Firme, Queimadas, Extrema, Fazenda, Liberdade, Sacado, Novo Mundo, Vila Gomes, Niterói, Lago Verde, Lago Jose Anjo, Rio de Janeiro, Jurupari e outras comunidades e localidades. Vale ressaltar que as atuais comunidades correspondem às antigas unidades produtoras de borracha – os Seringais- e as localidades corresponde às antigas comunidades ou localidades, como eram chamadas, na época, as colocações que eram os locais onde os seringueiros armavam suas barracas e ali produziam a borracha. Essas colocações ficavam as margens dos rios ou igarapés longe, dos rios, neste caso eram chamadas de Centro. Uma colocação ficava, às vezes, vários quilômetros de distâncias umas das outras, em alguns casos ficavam bem próximas, mas isso era uma raridade, pois assim exigia a dinâmica do trabalho nos seringais na produção do látex, produto altamente lucrativo e que movimentava toda a economia da região.
Essas comunidades e outras, não citadas neste trabalho, formam a zona rural do município também chamado de população, ou povos, ribeirinhos. Os ribeirinhos vivem praticamente do extrativismo e da agricultura de subsistência e extensiva. Alguns já produzem em escala comercial no setor agropecuário e madeireiro. Mas, os recursos naturais (caça, pesca, madeira, frutos, raízes, folhas, cascas e nozes) ainda constituem a principal atividade econômica das populações ribeirinhas embora a agricultura já tenha alcançado um expressivo desenvolvimento em algumas comunidades, mas na maioria é o extrativismo que ainda predomina. Isso explica, em parte, a situação de abandono em vivem essas populações que formam a zona rural do município. Envira ou Embira, como era também chamado o segundo maior rio do município (conforme denominação dos colonizadores espanhóis) é o nome dado a casca de algumas árvores, muito comum na região, de onde se extrai uma fibra bastante resistente e muito utilizada pelos ribeirinhos em suas atividades, principalmente na construção de “tapirir”e de casas do tipo pau-a-pique ou palafitas construídas em meio a floresta.
Durante as primeiras décadas, após o ato de criação do município, os governos municipais assim como a população da zona urbana, ou em processo de urbanização, sofreram forte pressão dos “Coronéis de Barranco” que impediam, de certa forma, o desenvolvimento do município no que se refere à expansão territorial para ampliação do perímetro urbano, para extração de madeira e para o uso da terra em atividades agrícolas ou pecuarísticas.
O seringal Pacatuba, de propriedade do senhor Joaquim Borba, e cedido pelo mesmo para, mediante o pagamento em espécie, ser utilizado para o assentamento da cidade, constituía-se de apenas uma estreita faixa de terra na margem direita do rio Tarauacá cercado por todos os lados pelas terras do seringalista Manoel Dias Martins, forte opositor dos governos municipais, impedia a utilização de suas terras para qualquer atividade produtiva que beneficiasse o município. Suas terras eram vigiadas por pessoas de sua confiança com a intenção de impedir qualquer ação com fim produtivo por parte dos habitantes da zona urbana do município.
Dessa forma percebe-se o grande obstáculo que se colocou para o desenvolvimento do município por parte dos “Coronéis de Barranco”, principalmente o dono do seringal Foz do Envira que muito contribuiu para o fraco desempenho econômico do município de Envira, fato que também contribuiu para a estagnação política e social durante as primeiras décadas após sua fundação, não que isso seja uma justificativa para o baixo desenvolvimento da região, mas que somado aos demais fatores que impedia o progresso da região, como a falta de políticas públicas e a má aplicação dos recursos públicos já bem escassos contribuíram significativamente para retardar o processo de crescimento do município nos seus diversos campos de atuação.
Partido dos atores que comandavam a região como donos absolutos das terras, que comandavam também econômica, política e ideologicamente as pessoas como alguns portugueses ainda com uma mentalidade que remontava o período colonial a análise reflexiva sobre a História do município de Envira não pode ser totalmente objetiva, uma vez que a sociedade vivia a mercê das ações inescrupulosas adotada por esses atores em toda a complexidade da vida na região. Isso nos leva a refletir sobra às instituições que atuavam naquela realidade, quais sejam: governos, seringalistas, seringueiros, ribeirinhos e moradores da cidade temas que serão abordados posteriormente.
Na época da criação do município de Envira a sociedade era formada por uma população de pouco ou quase nenhum conhecimento, era: índios, caboclos (significa do mato, mestiços característicos da região amazônica), seringueiros vindos do nordeste pessoas simples e humildes e ribeirinhos na sua grande maioria. Mas, o fato de terem pouca instrução, analfabetos na sua maioria, não fez com que todos aceitassem passivamente todas as ações violentas dos donos das terras. Para uma grande maioria as ações desses atores os fazia impotentes, sem poder de reação diante das peripécias dos “Coronéis de Barranco” que atuavam em grupos e tinham grande prestígio econômico e político no cenário regional. A falta de organização social, política e econômica favoreceu o domínio seringalístico sobre as populações iletradas que tinha como única forma de manter a sobrevivência respeitar as regras que os donatários estabeleciam.
O cenário político, econômico e social permaneceu inalterado durante as primeiras décadas da criação do município, (Lei estadual nº. 96 de 19/12/1955).
“A criação do município de Envira não inibiu ou modificou a atuação dos seringalistas, continuaram mandando como antes, proibiam que a gente pescasse, caçasse ou plantasse em suas terras. O jeito era fazer escondido, então quando sabiam ficavam uma fera” (Sebastião, antigo morador do município, entrevista concedida em 10/11/2005).
O conteúdo da entrevista acima expressa muito bem a realidade dos moradores da cidade e a ação dos “Coronéis de Barranco” na região.
A construção da cidade de Envira ocorreu despida de uma organização ou planejamento. As primeiras casas foram construídas com poucos recursos e pouco conhecimento dos construtores em engenharia, por isso eram construções rústicas, casebres, palafitas ou choupanas. No início o crescimento da cidade foi bastante lento. Isso se deu devido ao fato de que a população do município vivia exclusivamente da extração do látex, atividade exercida no meio da floresta, por isso habitavam nos seringais nas colocações (locais onde moravam os seringueiros no meio da floresta próxima as estradas de seringa). Ali construíam suas habitações, tinham contato apenas com alguns seringueiros mais próximos e com o “Barracão”, (sede do seringal, onde vivia o patrão com sua família, os empregados e alguns moradores). Nas colocações, os seringueiros construíam suas famílias, criavam seus filhos, sem escola, sem assistência médico-sanitária ou qualquer outro benefício social. Os filhos de seringueiros iam tornar-se também seringueiros, ofício que aprendiam ainda cedo com os pais, pois não havendo outra alternativa econômica na região não tinham opção entre essa ou aquela profissão. As pessoas que decidiam tentar outra forma de vida iam se aventurar em outros núcleos urbanos, mais desenvolvidos, como Manaus ou Belém, por exemplo, e não na sede do município onde as condições de vida eram iguais ou ainda piores da dos locais onde viviam nos seringais. Dessa forma fica evidente que o evento de criação do município não promoveu grandes transformações para a região, principalmente no que se refere a qualidade de vida da população ou ainda, não significou novas perspectivas para uma vida melhor. Além do mais havia a forte oposição dos coronéis de barranco que dificultavam direta ou indiretamente a vida na cidade.
É importante ressaltar que não se verifica no processo de criação do município de Envira assim como no assentamento da cidade, a presença marcante da Igreja Católica ou Protestante, fato muito comum na região amazônica onde as maiorias dos núcleos urbanos atuais surgiram a partir de uma missão religiosa. Em toda a região que compreende a área territorial do município de Envira não havia, segundo informações dos moradores, nenhuma missão religiosa fixa havia na região, apareciam esporadicamente para realizar alguns sacramentos, mas sem uma presença marcante do clero ou laicato na região ou no povo, onde sua intervenção ou influencia contribuísse efetivamente para uma conscientização social e construção da sociedade, de forma a contribuir, principalmente com a sociedade civil.
Nesse aspecto, OLIVEIRA e GUIDOTTI, comentam: Na Amazônia havia uma hierarquia totalmente estrangeira. No campo um clero pobre, extremamente abnegado, mas em geral pouco intelectualizado. Na cidade, ao contrário, um segmento do clero de alta cultura intelectual e politicamente progressista, ligado, através da ação católica, a um laicato intelectual, mas pouco presente no povo; clero e laicato entreguem pela hierarquia à repressão em 1964, e se sentindo marginais na Igreja enquanto nascia uma intelectualidade marxizante que se cria fora da Igreja. No campo, fora das áreas indígenas, uma população quase na totalidade católica com suas organizações, inclusive não-postoris, como os sindicatos, orientados ou regidos pelo clero nas prelazias melhor estruturadas “(2000, p.08).
Quanto às organizações, não podemos aplicá-las, nem de longe, a região em referencia, uma vez que a população não tinha uma orientação organizacional intelectualizada, laica ou religiosa.
Esse aspecto acima citado faz da História de Envira uma história distinta, particular, diferente das de seu entorno e de outros municípios do Amazonas. A ação da Igreja no município influenciou, muito modestamente, já a partir dos anos 60, na organização da sociedade para uma integração político-economica e sócio-cultural, pois sua presença não foi evidenciada nos principais aspectos da vida da população local.
A Igreja Católica só passou a ter uma participação efetiva na sociedade envirense a partir da década de 1970, quando a Prelazia do Alto Juruá disponibilizou a fixação de um páraco para a sede do município que, em função da precariedade do sistema de saúde passou também a exercer a função médica e pela precariedade na área da Educação exerceu também a função de professor e diretor da Unidade Educacional do município. Esses fatores expressam o estado de carência em que vivia o município. Por outro lado, mostra a contribuição da Igreja com os sistemas de saúde e educação do município, segundo informações dos moradores mais antigos e que o município dispunha de poucos profissionais nas áreas acima referidas. Esses fatores podem ser expressos ou observados no relato de uma antiga moradora da cidade, que diz o seguinte: “O Padre foi, durante muito tempo o nosso médico, abaixo de Deus ele curou muita gente (Maria. Entrevista concedida em 07/05/2004)”.
Esses aspectos mostram o estado de carência em que se encontrava aquele contexto e a ausência de organismos governamentais dinamizadores ou promotores do bem estar social, assim como de políticas públicas para a região. Isso implica a uma reflexão sobre a vida em sociedade e a aplicação das políticas públicas no âmbito político, econômico e social daquele contexto.
Para expressar melhor a situação de abandono em que vivia a população do município de Envira vale ressaltar que, como afirmamos em páginas anteriores deste trabalho, a principal atividade econômica existente na região do município ainda era a produção da borracha. Muito tempo se passou depois de sua decadência no mercado internacional (a partir de 1920 a borracha produzida na Amazônia perdeu o seu mercado no cenário internacional para a borracha produzida na Malásia, na Ásia), mas nessa época a região do município de Envira ainda vivia da extração da goma elástica. Isso significa que o ritmo de evolução da região em estudo foi realmente muito lento e caminhou, durante muito tempo no mesmo ritmo com que a natureza processa as suas transformações.
Nessa época a borracha era o principal produto das atividades econômicas e sociais e, também, o motivo de ocupação da região, principalmente a partir da migração nordestina no final do século XIX, início do século XX e por ocasião da Segunda Guerra Mundial como os “Soldados da Borracha”. É importante ressaltar que a economia gomífera, apesar de não representar maior importância econômica na pauta de exportações dos produtos nacionais, ainda era, nessa parte da Amazônia, a atividade que movia o comércio local e que dava a tônica da dinâmica econômica e social na região.
Para ilustrar melhor o que comentamos acima recorremos ao que diz TOCANTINS: “A Amazônia só granjeou o aspecto dinâmico de realizações sociais e econômicas, em notoriedade universal, com o advento da borracha. Antes, ela era uma região tropical e, como as outras, centro fornecedor de especiarias, de bichos exóticos, de poucos produtos cultiváveis. Embora atraísse a atenção dos cientistas, dos homens de letras, pelo mundo de coisas inéditas que encerrava a sua participação na vida de outros povos quase passava despercebida. Foi à borracha que veio lançá-la ao renome, como produtora de uma das mais notáveis matérias - primas oferecidas à humanidade, através de uma gama de expectativas e aspirações crescentes” (1982, p. 119).
Percebe-se, portanto, que a economia gomífera alimentou por muito tempo o sonho de uma vida melhor das populações da Amazônia e, em particular dos habitantes da região em referência fato que explica a extração do látex, para a sobrevivência e como única fonte de renda da região até por volta dos anos 80, que ainda continuava sendo o principal motivo de ocupação humana na região do município de Envira, dada a inexistência de outra atividade econômica que justificasse a ocupação dos espaços físicos: urbano e rural, ou sua transformação, sendo que o seringal representava, para a população local, a garantia dos recursos básicos para a sua sobrevivência.
Sobre esse aspecto Leandro Tocantins ressalta o seguinte: “Surgindo o seringal, transformou-se quase que inteiramente o processo econômico, o que veio refletir no modo da vida das populações, anteriormente engajada em outros misteres. O regime oniprodutivo, latifundiário da borracha afastou o homem das culturas agrícolas, aristocratizou a figura do patrão, aviltou a do seringueiro e estimulou a expansão do latifúndio a feições antes desusadas, ou, ao menos amortecidas pela coleta móvel das drogas e emprego da terra em pequena agricultura” (1982, p. 103).
No início da fundação da sede do município da Envira, tal evento não atraiu as populações para a cidade, pois estes não viam na cidade expectativa de vida melhor ou igual daquela que tinham nas unidades produtoras de borracha. Assim, fica mais fácil entender porque o núcleo urbano do município teve um processo de ocupação tão lento no espaço urbano, sendo uma parte
que a zona rural era a principal área de ocupação e só foi superada pela zona urbana após a total extinção do comércio da borracha, muitos anos depois
O surgimento do núcleo urbano, anos após a criação do município, não desencadeou um impacto imediato atribuído a mudanças significativas nas estruturas política, econômica, social e cultural, isso porque as mudanças que surgiram foram pouco sentidas pelas populações que habitavam a região. Pouco foram as transformações que ocorreram com o advento de criação da cidade. O estilo e a qualidade de vida permaneceram como antes.
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O NOSSO ENVIRA

Envira às margens do Tarauacá, Salve Envira, terra morena,
És um pedacinho do Brasil, Memória de um povo guerreiro;
Que guardarei no meu coração, Será sempre sonho e esperança
Com muito amor, fervor e brio. Para o caboclo seringueiro.

Francisco do Valles foi seu fundador, Bem – vindos sejam os visitantes
Comemora-se em 31 de janeiro Que prestigiam nossa cultura.
Esta data especial em memória O envirense tem barriga cheia
De nossos grandes guerreiros E a nossa terra, muita fartura.

Em 1962, Envira começou ser desmatado
Por bravos homens seringueiros
Que neste chão deixaram seus rastos enfícados
No intuito de ganharem muito dinheiro.


O nosso Envira tem mil encantos,
Suas belezas são naturais;
Cenário verde, lindas caboclas
Nos deixam mais sensuais.
Mitos e lendas são imortais,
Belas histórias que contarão
Nossos filhos, netos e bisnetos
E tataranetos que ainda virão.

Nossa cidade, acervo artístico,
Aqui de tudo um pouco tem.
Contar mitos e lendas
É fazer arte também.
                                        Por: João Luiz Silveira da Rocha


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