Desde os tempos mais primórdios
quando o homem ainda não havia construído mecanismos para criar e estabelecer
formas de organização social, reger a organização política sob a forma de
governo dentro de um estado nacional o desejo de poder já povoava as mentes dos
seres humanos. Inicialmente o poder era conseguido a partir da posse da
terra, época em que a ideia de moeda de troca ainda não tinha surgido como
critério único de atividade comercial e de forma de dominação. A posse da terra
foi conseguida através de fatores como, estiagens prolongadas, enchentes, frios
intensos que levaram ao insucesso de colheitas causando a perda de áreas
cultiváveis e a miséria de muitos e tornando-os dependentes daqueles que
tiveram êxito em suas colheitas.
Durante muito tempo a posse da
terra era tida como critério de poder, principalmente no período medieval, uma
forma de uns se sobreporem aos outros dominando-os, era uma forma de
concentração de poder nas mãos de poucos.
Com o passar do tempo foram sendo
construídos e reconstruídos novos conhecimentos a medida em que iam surgindo
novas necessidades tanto de caráter político quanto social, produtivo e
econômico, assim como o trabalho em grupo e, ainda, a definição de tarefas por
sexo. Definição dos papeis do homem e da mulher nas sociedades conforme suas
culturas e concepções. Nesse cenário surge a escrita, ou seja, formas de
transmitir ideias através de desenhos e símbolos representando o que se queria
transmitir. Era a escrita cuneiforme.
A escrita, por exemplo, foi uma
dessas necessidades advinda da prática comercial, é a partir dela que se criam
e recriam, normas, regras, leis, transmissão e construção de conhecimentos do
homem para o homem, com o fim especifico de dominação tanto pela prática
comercial quanto pelo poder intelectual. E assim, foi possível desenvolver
novas ideias, as quais foram escritas permitindo que pudessem ser ler lidas por
outras pessoas que reformularam e, até a tomaram como base para novas
teorizações, tornando o conhecimento mais dinâmico, difundido, aceito e como
modelo ou padronização do pensamento de um povo ou sociedade, ou seja, os
governos criaram ideias e difundiram entre as pessoas de um mesmo território,
no sentido de que todos pudessem pensar mais ou menos da mesma forma,
denominada de cultura de um povo, consolidada por meio das chamadas obras
canônicas.
Nesse contexto devem ser incluídos,
também, as teorias de classificação, quais sejam: discriminação, preconceito e
a eugenia racial responsável pelo processo de branqueamento e pela seleção
física e mental da população.
É nesse contexto que surgem as
ideias econômicas e trazem junto uma série de leis e regras orquestradas por
concepções subversivas, opressoras, excludentes e afunilantes. A criação de uma
moeda de troca única, aceita por todos de um mesmo território, expandiu a
atividade comercial e criou as condições necessárias para a produção de bens de
consumo. Inicialmente na forma artesanal e manufatureira, depois com o evento
da revolução industrial, na forma de produção em série. O consumo levou ao aumento
da produção e a consequente intensificação da circulação de produtos pelos
quatro cantos do mundo. Os povos ou estados que conseguiram acumular mais
capital (acumulação de bens) conseguiram dominar o comercio mundial, enquanto
que as regiões mais pobres ficaram totalmente dependentes das mais ricas.
É nesse contexto que o mundo de
divide entre centros produtores e centros fornecedores de produtos manufaturados ou
industrializados concentrando, dessa forma, a riqueza e o poder nas mãos de
poucos e tomando muitos por escravos e centros fornecedores de matéria prima e
de mão-de-obra. Isso criou um campo fértil para a criação de mecanismos de
defesa de vários povos contra os menos desenvolvidos, do ponto vista tecnológico, e de acumulação de bens.
Criaram também mecanismos de
classificação dos povos a partir de sua própria cultura, o exemplo mais
evidente é o eurocentrismo, que ajudou a justificar a escravidão, a exploração
colonial e, mais tarde, o colonialismo, bem como o capitalismo e o imperialismo.
Os resultados desses processos
foram as guerras, os conflitos dentro de um mesmo território (guerras civis)
que dizimaram grande parte das populações, criaram barreiras para o
desenvolvimento de muitos povos em todos os aspectos, o apoio a formação de
regimes ditatoriais instalados nos países menos desenvolvidos a fim de defender
os interesse dos países ricos, a fome, a miséria, os massacres e as catástrofes
naturais resultantes do processo de devastação das florestas, exploração
mineral e emissão de gases poluentes na atmosfera.
Transformaram algumas região do
planeta em depósitos de descarte de materiais, como várias regiões da África,
da América e da Ásia, ou seja, a exploração do subsolo, a devastação das
florestas e a emissão de gases na atmosfera produziram efeitos irreversíveis
nos diversos biomas destruindo a paisagem natural, exterminando espécies e
dificultando a vida humana nos mais diversos pontos do planeta, tudo em nome da
ganancia, do lucro e do poder econômico na disputa pela hegemonia mundial.
Atualmente vive-se um período de
instabilidade e incertezas quanto ao que pode ocorrer, em termos de desastres
ambientais, como aumento da temperatura, diminuição da água doce,
desertificação, extinção de espécies animais e vegetais entre outros. Isso
exige dos seres, tanto humanos quanto animais, uma readaptação ao ambiente e
nesse processo muitas espécies certamente vão desaparecer, outras irão
encontrar muita dificuldade para se adaptares as novas condições de vida
imposta aos seres pelo meio ambiente. Diante de toda essa iminente e real
ameaça pergunta-se: valeu a pena tanta destruição? O homem tem condições de
reverter todo o mau que causou ao planeta? A destruição continuará até o último
suspiro do planeta? E o ser humano, onde fica nessa história? Vai suportar
todas essas alterações? O poder dos ricos, adquiridos através da exploração,
devastação, ceifação de vidas irá livrá-los de serem atingidos igualmente aos
demais que habitam o planeta? Certamente não, se estiverem vivos provarão do
seu próprio “veneno” e sofrerão as consequências de suas ações. Se não
contribuiu para ampliar as condições de vida e o bem estar social de que valeu
a pena tudo isso?
São esses questionamentos que nos
fazem refletir sobre o porquê de tanta destruição, tanta opressão, tanta
ganancia pelo poder e as diversas forma de dominação criadas e colocadas em
prática pelo homem. Atualmente vive-se momentos que parecem irreversíveis:
violência, fome, alterações climáticas, alastramento de doenças não
transmissíveis, modismos que se espalham e contaminam rapidamente milhões e
milhões de pessoas em todo mundo, individualismo e a desumanização cada vez mais
acentuada do ser humano. O desenvolvimento da tecnologia da comunicação afastou
fisicamente as pessoas e promoveu uma nova forma de contato, um novo modelo de
relação em que o indivíduo, solitariamente, está conectado vinte e quatro horas
em um mundo virtual impregnado de vícios e armadilhas escondidos atrás dos mais
diversos tipos de informação, teorias, doutrinas e filosofias criadas para
apresentar um mundo alegórico e fantasioso, supérfluo apenas para justificar as
narrativas que sustentam teorias fundamentadas nas concepções de prosperidade e
de uma vida colorida.
Chegamos a um ponto em que o todo
não basta, é preciso o “tudo”. E para chegar ao “tudo” é válido qualquer
artificio, técnica, manobra, barganha e acordos entre grupos confidentes que
partilham do bolo sujo com o sangue alheio, impregnado das mais repugnantes
formas de opressão. Como se as instituições estivessem numa concorrência entre
si disputando o monopólio da corrupção.
No palco do teatro da corrupção, da
subversão, dos privilégios, do descaso e da negação dos direitos os atores
encenam peças dramáticas, comedias, tragédias e até mesmo humor onde demonstram
seus sacrifícios pelo “povo”, sua preocupação em defender os interesses do
“povo” dos quais demanda o poder. São encenações teatralizadas que impressionam
e, de fato, fazem com a maioria credite no que assistem ilusoriamente.
Infelizmente são apenas representações teatrais e como tais, fictícias, sem
sustentação, por isso não se cumprem e nem se realizam, pois são entretenimento
e diversão para os atores que comandam o país, se divertem com a população
manipulando e negando a ela os direitos. Então fica a pergunta: Valeu a pena
destruir, oprimir, subverter, escravizar e subtrair em nome do poder e do
lucro? As muitas experiências humanas tem demonstrado que as formas de
opressão, de dominação e de escravidão desenvolvidas pelo homem só resultaram
em guerras, rebeliões, conflitos e a insatisfação da sociedade, que sem
perspectiva e sem ter nada a perder, luta por seus direitos.
Todo esse passado de opressão, de
negação de direitos, de defesa dos privilégios e de manutenção do poder levaram
o país a mergulhar numa crise sem precedentes a qual chegou a um ponto
insustentável. A crise foi se generalizando e impregnando as principais
instituições políticas e econômicas recriando e/ou criando, ou até
mesmo, aperfeiçoando a chamada cultura da corrupção orquestrada pela cúpula do
poder.
Portanto, o atual contexto requer
reformulação, reflexão profunda sobre o mundo que queremos reconstruir, a
sociedade que se quer formar, o sistema educacional igual para todos e federalizado, um governo transparente fiscalizado pela sociedade e uma lei que
funcione para todos, não apenas para os mais fracos que não podem se defender.
Por: Joao L. Epifânio.