sexta-feira, 10 de junho de 2016

Poder e Ganancia

Desde os tempos mais primórdios quando o homem ainda não havia construído mecanismos para criar e estabelecer formas de organização social, reger a organização política sob a forma de governo dentro de um estado nacional o desejo de poder já povoava as mentes dos seres humanos. Inicialmente o poder era conseguido a partir da posse da terra, época em que a ideia de moeda de troca ainda não tinha surgido como critério único de atividade comercial e de forma de dominação. A posse da terra foi conseguida através de fatores como, estiagens prolongadas, enchentes, frios intensos que levaram ao insucesso de colheitas causando a perda de áreas cultiváveis e a miséria de muitos e tornando-os dependentes daqueles que tiveram êxito em suas colheitas.
Durante muito tempo a posse da terra era tida como critério de poder, principalmente no período medieval, uma forma de uns se sobreporem aos outros dominando-os, era uma forma de concentração de poder nas mãos de poucos.
Com o passar do tempo foram sendo construídos e reconstruídos novos conhecimentos a medida em que iam surgindo novas necessidades tanto de caráter político quanto social, produtivo e econômico, assim como o trabalho em grupo e, ainda, a definição de tarefas por sexo. Definição dos papeis do homem e da mulher nas sociedades conforme suas culturas e concepções. Nesse cenário surge a escrita, ou seja, formas de transmitir ideias através de desenhos e símbolos representando o que se queria transmitir. Era a escrita cuneiforme.
A escrita, por exemplo, foi uma dessas necessidades advinda da prática comercial, é a partir dela que se criam e recriam, normas, regras, leis, transmissão e construção de conhecimentos do homem para o homem, com o fim especifico de dominação tanto pela prática comercial quanto pelo poder intelectual. E assim, foi possível desenvolver novas ideias, as quais foram escritas permitindo que pudessem ser ler lidas por outras pessoas que reformularam e, até a tomaram como base para novas teorizações, tornando o conhecimento mais dinâmico, difundido, aceito e como modelo ou padronização do pensamento de um povo ou sociedade, ou seja, os governos criaram ideias e difundiram entre as pessoas de um mesmo território, no sentido de que todos pudessem pensar mais ou menos da mesma forma, denominada de cultura de um povo, consolidada por meio das chamadas obras canônicas.
Nesse contexto devem ser incluídos, também, as teorias de classificação, quais sejam: discriminação, preconceito e a eugenia racial responsável pelo processo de branqueamento e pela seleção física e mental da população.
É nesse contexto que surgem as ideias econômicas e trazem junto uma série de leis e regras orquestradas por concepções subversivas, opressoras, excludentes e afunilantes. A criação de uma moeda de troca única, aceita por todos de um mesmo território, expandiu a atividade comercial e criou as condições necessárias para a produção de bens de consumo. Inicialmente na forma artesanal e manufatureira, depois com o evento da revolução industrial, na forma de produção em série. O consumo levou ao aumento da produção e a consequente intensificação da circulação de produtos pelos quatro cantos do mundo. Os povos ou estados que conseguiram acumular mais capital (acumulação de bens) conseguiram dominar o comercio mundial, enquanto que as regiões mais pobres ficaram totalmente dependentes das mais ricas.
É nesse contexto que o mundo de divide entre centros produtores e  centros fornecedores de produtos manufaturados ou industrializados concentrando, dessa forma, a riqueza e o poder nas mãos de poucos e tomando muitos por escravos e centros fornecedores de matéria prima e de mão-de-obra. Isso criou um campo fértil para a criação de mecanismos de defesa de vários povos contra os menos desenvolvidos, do ponto vista tecnológico, e de acumulação de bens.
Criaram também mecanismos de classificação dos povos a partir de sua própria cultura, o exemplo mais evidente é o eurocentrismo, que ajudou a justificar a escravidão, a exploração colonial e, mais tarde, o colonialismo, bem como o capitalismo e o imperialismo.
Os resultados desses processos foram as guerras, os conflitos dentro de um mesmo território (guerras civis) que dizimaram grande parte das populações, criaram barreiras para o desenvolvimento de muitos povos em todos os aspectos, o apoio a formação de regimes ditatoriais instalados nos países menos desenvolvidos a fim de defender os interesse dos países ricos, a fome, a miséria, os massacres e as catástrofes naturais resultantes do processo de devastação das florestas, exploração mineral e emissão de gases poluentes na atmosfera.
Transformaram algumas região do planeta em depósitos de descarte de materiais, como várias regiões da África, da América e da Ásia, ou seja, a exploração do subsolo, a devastação das florestas e a emissão de gases na atmosfera produziram efeitos irreversíveis nos diversos biomas destruindo a paisagem natural, exterminando espécies e dificultando a vida humana nos mais diversos pontos do planeta, tudo em nome da ganancia, do lucro e do poder econômico na disputa pela hegemonia mundial.
Atualmente vive-se um período de instabilidade e incertezas quanto ao que pode ocorrer, em termos de desastres ambientais, como aumento da temperatura, diminuição da água doce, desertificação, extinção de espécies animais e vegetais entre outros. Isso exige dos seres, tanto humanos quanto animais, uma readaptação ao ambiente e nesse processo muitas espécies certamente vão desaparecer, outras irão encontrar muita dificuldade para se adaptares as novas condições de vida imposta aos seres pelo meio ambiente. Diante de toda essa iminente e real ameaça pergunta-se: valeu a pena tanta destruição? O homem tem condições de reverter todo o mau que causou ao planeta? A destruição continuará até o último suspiro do planeta? E o ser humano, onde fica nessa história? Vai suportar todas essas alterações? O poder dos ricos, adquiridos através da exploração, devastação, ceifação de vidas irá livrá-los de serem atingidos igualmente aos demais que habitam o planeta? Certamente não, se estiverem vivos provarão do seu próprio “veneno” e sofrerão as consequências de suas ações. Se não contribuiu para ampliar as condições de vida e o bem estar social de que valeu a pena tudo isso?
São esses questionamentos que nos fazem refletir sobre o porquê de tanta destruição, tanta opressão, tanta ganancia pelo poder e as diversas forma de dominação criadas e colocadas em prática pelo homem. Atualmente vive-se momentos que parecem irreversíveis: violência, fome, alterações climáticas, alastramento de doenças não transmissíveis, modismos que se espalham e contaminam rapidamente milhões e milhões de pessoas em todo mundo, individualismo e a desumanização cada vez mais acentuada do ser humano. O desenvolvimento da tecnologia da comunicação afastou fisicamente as pessoas e promoveu uma nova forma de contato, um novo modelo de relação em que o indivíduo, solitariamente, está conectado vinte e quatro horas em um mundo virtual impregnado de vícios e armadilhas escondidos atrás dos mais diversos tipos de informação, teorias, doutrinas e filosofias criadas para apresentar um mundo alegórico e fantasioso, supérfluo apenas para justificar as narrativas que sustentam teorias fundamentadas nas concepções de prosperidade e de uma vida colorida.
Chegamos a um ponto em que o todo não basta, é preciso o “tudo”. E para chegar ao “tudo” é válido qualquer artificio, técnica, manobra, barganha e acordos entre grupos confidentes que partilham do bolo sujo com o sangue alheio, impregnado das mais repugnantes formas de opressão. Como se as instituições estivessem numa concorrência entre si disputando o monopólio da corrupção.
No palco do teatro da corrupção, da subversão, dos privilégios, do descaso e da negação dos direitos os atores encenam peças dramáticas, comedias, tragédias e até mesmo humor onde demonstram seus sacrifícios pelo “povo”, sua preocupação em defender os interesses do “povo” dos quais demanda o poder. São encenações teatralizadas que impressionam e, de fato, fazem com a maioria credite no que assistem ilusoriamente. Infelizmente são apenas representações teatrais e como tais, fictícias, sem sustentação, por isso não se cumprem e nem se realizam, pois são entretenimento e diversão para os atores que comandam o país, se divertem com a população manipulando e negando a ela os direitos. Então fica a pergunta: Valeu a pena destruir, oprimir, subverter, escravizar e subtrair em nome do poder e do lucro? As muitas experiências humanas tem demonstrado que as formas de opressão, de dominação e de escravidão desenvolvidas pelo homem só resultaram em guerras, rebeliões, conflitos e a insatisfação da sociedade, que sem perspectiva e sem ter nada a perder, luta por seus direitos.
Todo esse passado de opressão, de negação de direitos, de defesa dos privilégios e de manutenção do poder levaram o país a mergulhar numa crise sem precedentes a qual chegou a um ponto insustentável. A crise foi se generalizando e impregnando as principais instituições políticas e econômicas recriando e/ou criando, ou até mesmo, aperfeiçoando a chamada cultura da corrupção orquestrada pela cúpula do poder.
Portanto, o atual contexto requer reformulação, reflexão profunda sobre o mundo que queremos reconstruir, a sociedade que se quer formar, o sistema educacional igual para todos e federalizado, um governo transparente fiscalizado pela sociedade e uma lei que funcione para todos, não apenas para os mais fracos que não podem se defender.    

Por: Joao L. Epifânio.