UM
POVO E MÚLTIPLAS CULTURAS
A
sociedade brasileira é uma síntese da multiplicidade de povos e culturas vindas
das mais diversas partes do planeta, por conta do processo de colonização, da
migração e dos nativos. Esses múltiplos povos tiveram um papel importante na
formação da cultura nacional, no elemento físico, na língua, na religião, nos
modos de vida, nas relações sociais e no ideário popular. O resultado de tudo
isso é uma riqueza de aspectos e elementos que se harmonizam nas inter-relações
expressas nas suas diferenças perceptíveis e sintomáticas no contexto das manifestações
culturais que, naturalmente são reveladas na rotina do dia a dia.
Nesse
cenário diverso verifica-se que as ideias do eurocentrismo ainda persistem em
classificar as culturas como superiores e inferiores, não conseguem aceitar que
cada povo desenvolveu seus conhecimentos conforme suas necessidades diante do
meio e das condições que esse meio lhes impunha ou exigia. Assim, muitos desses
povos que tiveram um papel primordial na formação social e cultural do país,
são ignorados ou vistos com escrúpulos.
Negros
e indígenas, por terem sidos escravizados, pelo fato de não terem atingido um
alto grau de desenvolvimento no âmbito da intelectualidade, indústria bélica,
sistema de governo, ideias exacerbadas de acumular bens, de subversão do seu
próprio grupo são considerados inferiores e vistos com expurgo pela cúpula que
ostenta uma concepção de superioridade recheada de preconceito e
discriminação.
Dentro
desse cenário adverso e de escarnio, causado pela intolerância e pela
incapacidade de convivência pacifica com as diferenças encontram-se os
afrodescendentes que após sustentar a ganancia dos conquistadores portugueses
ávidos pelos lucros do pau-brasil, da economia canavieira e da mineração com a
abolição e com o evento da república foram sistematicamente descartados e
excluídos sem nenhum reconhecimento por terem dado o seu sangue e sua vida pela
causa dos conquistadores. Os índios, dizimados na sua maioria, são também tidos
como inferiores.
O
fato de os europeus não terem encontrado no Brasil sociedades evoluídas do
ponto de vista do progresso econômico e cientifico, conforme o que entendiam
como civilização os nativos foram violentados culturalmente. Viram o seu povo e
sua cultura serem colocados numa situação de hierarquia, vistos como bárbaros e
selvagens. Isso tudo pelo simples fato de sua identificação com a natureza, por
preservá-la, pois dela eram totalmente dependentes.
Seu
modo de vida foi motivo de extermínio, de povos depravados, sem pudor vistos
com uma proximidade bastante expressiva dos animais. O ponto de vista europeu
de civilização, mediante os padrões da religião, do progresso e do sistema
político econômico construiu estereótipos que até hoje permanecem incrustados
na forma ver, conceber e conviver com os nativos.
Esses
estereótipos, culturalmente construídos, a partir de ideias classificatórias de
caráter eurocêntrico e, portanto, preconceituosos tem causado grandes males aos
povos indígenas que, apesar de sua contribuição para formação social e cultural
do Brasil, e em particular da Amazônia, ainda são vistos como selvagens e
bárbaros.
Historicamente
o Brasil trata mal o seu povo. Trata os diferentes de modo diferente, pois
hierarquiza sua sociedade classificando-as como sociedades capazes e sociedades
menos evoluída e não capazes, como é o caso de afrodescendentes e indígenas. Na
tentativa de corrigir os graves erros cometidos no passado, adota políticas
sociais diferentes para povos diferentes o que acentua ainda mais o grau de
discriminação e preconceito, quando na verdade deveria existir uma política
para o povo brasileiro, pois no mesmo território coexistem povos diferentes com
culturas diferentes, mas são partes que formam um só povo que se completam na
sua diversidade.
Assim,
apesar de ainda haver grande resistência em conviver com a diferença, é
possível uma convivência pacifica de forma que todos possam construir e
partilhar conhecimentos, atribuir valor e respeito as diferenças.