terça-feira, 21 de abril de 2015

UM POVO E MULTIPLAS CULTURAS



UM POVO E MÚLTIPLAS CULTURAS


A sociedade brasileira é uma síntese da multiplicidade de povos e culturas vindas das mais diversas partes do planeta, por conta do processo de colonização, da migração e dos nativos. Esses múltiplos povos tiveram um papel importante na formação da cultura nacional, no elemento físico, na língua, na religião, nos modos de vida, nas relações sociais e no ideário popular. O resultado de tudo isso é uma riqueza de aspectos e elementos que se harmonizam nas inter-relações expressas nas suas diferenças perceptíveis e sintomáticas no contexto das manifestações culturais que, naturalmente são reveladas na rotina do dia a dia.
Nesse cenário diverso verifica-se que as ideias do eurocentrismo ainda persistem em classificar as culturas como superiores e inferiores, não conseguem aceitar que cada povo desenvolveu seus conhecimentos conforme suas necessidades diante do meio e das condições que esse meio lhes impunha ou exigia. Assim, muitos desses povos que tiveram um papel primordial na formação social e cultural do país, são ignorados ou vistos com escrúpulos.
Negros e indígenas, por terem sidos escravizados, pelo fato de não terem atingido um alto grau de desenvolvimento no âmbito da intelectualidade, indústria bélica, sistema de governo, ideias exacerbadas de acumular bens, de subversão do seu próprio grupo são considerados inferiores e vistos com expurgo pela cúpula que ostenta uma concepção de superioridade recheada de preconceito e discriminação.
Dentro desse cenário adverso e de escarnio, causado pela intolerância e pela incapacidade de convivência pacifica com as diferenças encontram-se os afrodescendentes que após sustentar a ganancia dos conquistadores portugueses ávidos pelos lucros do pau-brasil, da economia canavieira e da mineração com a abolição e com o evento da república foram sistematicamente descartados e excluídos sem nenhum reconhecimento por terem dado o seu sangue e sua vida pela causa dos conquistadores. Os índios, dizimados na sua maioria, são também tidos como inferiores.
O fato de os europeus não terem encontrado no Brasil sociedades evoluídas do ponto de vista do progresso econômico e cientifico, conforme o que entendiam como civilização os nativos foram violentados culturalmente. Viram o seu povo e sua cultura serem colocados numa situação de hierarquia, vistos como bárbaros e selvagens. Isso tudo pelo simples fato de sua identificação com a natureza, por preservá-la, pois dela eram totalmente dependentes.
Seu modo de vida foi motivo de extermínio, de povos depravados, sem pudor vistos com uma proximidade bastante expressiva dos animais. O ponto de vista europeu de civilização, mediante os padrões da religião, do progresso e do sistema político econômico construiu estereótipos que até hoje permanecem incrustados na forma ver, conceber e conviver com os nativos.
Esses estereótipos, culturalmente construídos, a partir de ideias classificatórias de caráter eurocêntrico e, portanto, preconceituosos tem causado grandes males aos povos indígenas que, apesar de sua contribuição para formação social e cultural do Brasil, e em particular da Amazônia, ainda são vistos como selvagens e bárbaros.
Historicamente o Brasil trata mal o seu povo. Trata os diferentes de modo diferente, pois hierarquiza sua sociedade classificando-as como sociedades capazes e sociedades menos evoluída e não capazes, como é o caso de afrodescendentes e indígenas. Na tentativa de corrigir os graves erros cometidos no passado, adota políticas sociais diferentes para povos diferentes o que acentua ainda mais o grau de discriminação e preconceito, quando na verdade deveria existir uma política para o povo brasileiro, pois no mesmo território coexistem povos diferentes com culturas diferentes, mas são partes que formam um só povo que se completam na sua diversidade.

Assim, apesar de ainda haver grande resistência em conviver com a diferença, é possível uma convivência pacifica de forma que todos possam construir e partilhar conhecimentos, atribuir valor e respeito as diferenças.